Quem roubou meu sapatinho?
Por Miguel Anunciação (BH)*
Enorme expectativa cercava a sessão de “Quem roubou meu sapatinho?”, no Pró-Música. Como se a montagem do Grupo Teatral InSônia, de Ribeirão Preto (SP), viesse ser uma das melhores escalações da 8ª edição do Festival Nacional de Teatro. Pena, esta expectativa não se cumpre e o espetáculo um tanto desaponta - embora seus jovens integrantes não sejam responsáveis pelo que se diz de grandioso do seu mais recente trabalho.
Não é um espetáculo ruim. Absolutamente. Ao contrário, é muito bem cuidado, digno no que pretende e oferece. Dirigida por João Paulo Fernandes, sua versão para a tão reencenada e conhecida fábula dos Irmãos Grimm, a “Gata Borralheira” ou “Cinderela”, põe em cena sete atores (Gabriela Vansan, Vilsinho Juri, Renan Eichel, Juliano Borges, Renata Carlomagno, Lê Reis e Douglas Pires) e uma impressionante solução cenográfica, que acolhe os figurinos e as trocas do elenco.
Além de inserir tradicionais brincadeiras de rua da região em que vivem no primeiro espetáculo que produz para crianças, o pessoal do InSônia também dispõe personagens da obra secular em situações reconhecíveis no mundo de hoje. Sem alterar o enredo básico - uma menina rudemente tratada em casa pelas filhas da sua madrasta, salva pelo amor do jovem com quem dançou no baile real –, faz o príncipe se equilibrar sobre skate e a princesa, em patins. E a fada madrinha tem um quê de diva gay.
Formado em 2011, por ex-alunos do curso profissionalizante de teatro do Senac, equivalente ao 2º grau, o InSônia já montou mais três espetáculos: “Valsa nº 6”, de Nelson Rodrigues; uma coletânea de textos de Bertolt Brecht; e “Hamlet”, talvez a obra mais reverenciada de William Shakespeare. Montar um espetáculo para crianças não seria uma estratégia de garantir recursos para uma outra investida nos clássicos, em outra leitura para adultos, como tantos outros grupos se organizam.
Fotos por Rodrigo Souza
Segundo Renata Carlomagno, atriz/dramaturga de “Quem roubou meu sapatinho?”, o grupo reservaria cuidado igual a tudo o que produz. Desta vez, tomou as artes populares e as brincadeiras do interior paulista como matrizes. E o público responde calorosamente à sua encenação. É inegável que ela possui graça, alguns encantos. Mesmo que também recorra a uma estética bastante difundida pela TV e o elenco careça de mais técnicas de atuação.
O espetáculo foi apresentado no dia 6 de setembro | 19h | Pró-Música.
*Miguel Anunciação (BH) é jornalista e crítico de espetáculos.