Dom Chicote
Por Anna Esteves (RJ)*
A Cia A DitaCuja propõe “a criação de um outro tempo, um outro lugar” ao encontrar-se com o movimento Steampunk e escolhe a rua como tomada de posição política para “colocar seu pensamento e suas escolhas para o mundo”. Da dualidade entre público e privado e antigo e moderno nasce a proposta desta montagem.
Assim seus integrantes a definem no programa da peça e levantam a espada de Dom Chicote Mula Manca e seu fiel escudeiro Zé Chupança, dramaturgia de Oscar Von Pfhul, num domingo ensolarado na UFJF, justo no dia 7 de setembro.
O trabalho de pesquisa envolveu todo um coletivo de profissionais, com destaque para preparação musical de Marcio Bá, preparação circense de Ronando de Jesus, preparação de máscara e técnicas de rua de André Cruz, que além de atuar na peça, participa da confecção do figurino e assina a direção.
A Cia de Ribeirão Preto conta a história do recém-nomeado cavaleiro Dom Chicote Mula Manca, que por ordem do rei parte em busca das ovelhas roubadas de seu amigo Zé Chupança, em uma jornada repleta de perigos imaginários e conspirações reais.
A execução do trabalho fica comprometida por problemas de conteúdo e forma. Há um erro grave na escolha da companhia ao representar as figuras do rei e seu assessor com o clichê do homossexual. Se a peça propõe a discussão política dos impactos das relações (desiguais) de poder na avaliação crítica de cada espectador, cidadão comum, por que concentrar nas figuras mais abomináveis da peça a piada certa, preconceituosa e pequena?
O escopo de um teatro que propõe a crítica social como função da sua existência opera numa outra via: a refuncionalização dos clichês. O efeito formal é muito interessante, pois, ao mostrar objetivamente a diferença entre rir DE alguém e rir COM alguém, faz o espectador refletir criticamente sobre a cena e a vida.
Fotos por David Azevedo
Não é o que acontece em Dom Chicote Mula Manca e seu fiel escudeiro Zé Chupança. Há todo um discurso ideológico que não se concretiza nas escolhas cênicas e impede a potencialidade do conteúdo precioso que a companhia tem nas mãos.
O espetáculo foi apresentado no dia 7 de setembro | 11h | UFJF.
*Anna Esteves (RJ) é doutora em Artes Cênicas pela UNIRIO e em Artes, Línguas e Espetáculo por Nanterre (Paris X).