
O Guia das Cervejas: Entrevista com Henrique Oliveira, Beer Sommelier
As cervejas feitas artesanalmente se diferem na cor, no sabor, na textura e até na temperatura ideal para consumo. Mas não é por isso que ela não tem seu espaço no mercado. A onda de pub’s e cervejarias vem aumentando e trazendo muita coisa boa com ela.
O Zine Cultural bateu um papo com Henrique Oliveira, escritor e beersommelier (sim, apreciador de cervejas), autor do livro Brasil Beer, o guia das cervejas brasileiras. A obra é um verdadeiro mapa do tesouro. Com mais de 450 tipos de cervejas em 120 cidades do Brasil, o livro ainda traz sugestões de hoteis e serviços em cada cidade.
Confira o bate papo.

Zine: O que motivou a estudar e escrever sobre o tema cerveja?
Henrique: Quando assumi a presidência da Associação de Cervejeiros Artesanais de Minas Gerais (ACervA Mineira) em 2007, procurei estudar de forma mais apropriada sobre o assunto. Os livros que existiam no mercado eram poucos e normalmente voltados à produção de cervejas. Diga-se de passagem 80% dos livros existentes eram traduções vindos da Europa ou dos Estados Unidos. Dessa forma, percebi que havia uma lacuna para ser preenchida, sobretudo no que tange a um mapeamento das microcervejarias e cervejarias regionais no Brasil. E a partir dessas premissas iniciamos os trabalhos de confecção do livro Brasil Beer – O Guia Brasileiro de Cervejas.

Brasil Beer – O Guia Brasileiro de Cervejas
Zine: Quais as maiores descobertas que você fez?
Henrique: Descobri que as informações sobre a cerveja especial no país estava muito fragmentada em revistas e periódicos e a partir do mapeamento que efetuamos, descobrimos muitas coisas interessantes a começar pelas cidades pitorescas e pequenos municípios bastante atrativos para serem desvendados com microcervejarias que apresentavam cervejas incríveis, ricas em aroma e sabor. Esse desbravamento foi sensacional. Imagine passar um fim de semana na cidade histórica de Ouro Preto, que tem mais de 300 anos, tomando uma cerveja local feita com muito carinho regada a uma boa gastronomia: é indescritível!
Zine: Você acha que a cerveja no Brasil deixa muito a desejar em relação ao restante do mundo?
Henrique: De uns anos para cá, acredito fielmente que não. Há muitas cervejas que já ganharam diversos prêmios nacionais e internacionais. Das microcervejarias mineiras, destaco a Backer de Nova Lima, a Falke Bier de Ribeirão das Neves e a Wäls de Belo Horizonte que faturaram prêmios internacionais na América do Sul, nos Estados Unidos e na França. Aliás, em 2012 a Wäls foi eleita a melhor cervejaria do continente Sul Americano. Quanto aos cervejeiros caseiros e de pequeniníssimo porte – as ditas nanocervejarias, elas também não deixam nada a desejar. Nessa categoria, cito o Profana de Juiz de Fora, de propriedade do nobre amigo Cristiam Nazareno que conquistou diversos prêmios e medalhas em concurso nacional de cervejas por mais de dois anos consecutivos. Elas são, em seu conjunto uma explosão de sabores complexos que deixariam qualquer mestre cervejeiro de água na boca.
Cervejaria Wäls - Campeã do "Word Beer Cup"
Zine: Situações engraçadas que você vivenciou em função desse trabalho.
Henrique: Há algumas interessantes, todavia cito uma: Estava palestrando uma degustação para um grupo executivo de empresários e em um determinado momento abrimos uma cerveja. A turma estava na expectativa da minha próxima descrição. Era uma cerveja escura, bem encorpada. Como a cerveja estava muito fria, ao cheirar o líquido eu disse para o pessoal: - “Sabem qual é o aroma que estou sentido”? E a turma: -“Qual professor?” e eu: - “...Nada”! Não sinto nada! E foi uma gozeira só! – “Êita professor diz que sabe mas não sabe nada”! De fato, cerveja muito gelada torna-se difícil detectar aromas e sabores. E foi o que aconteceu não detectei os aromas correspondentes à cerveja! Foi um momento prazeroso, de formação de curiosos e aficionados e não de “enochatos”!
Zine: Como surgiu a ideia de trabalhar em parceria com seu sogro?
Henrique: Para o livro Brasil Beer, precisávamos de uma pessoa metódica, minuciosa que pudesse localizar hotéis agradáveis, bares relacionados ao tema, restaurantes e, sobretudo, bons serviços de táxi. Hélcio era a pessoa certa, pois ora aposentado de seus afazeres enquanto engenheiro de uma grande siderúrgica, dispunha do tempo necessário que pretendíamos para formatar essa parte do roteiro. Sua presença foi mais que assertiva e bem vinda, o que acabou sendo um verdadeiro sucesso.

Zine: Como tem sido investigar a produção em Minas?
Henrique: Esse é o meu próximo trabalho (livro) que tem sido muito instigante. Fico noites sem dormir pensando nas próximas páginas. Conversar com os empresários, com famílias que tiveram os bisavós, avós que um dia produziram cervejas é de tirar lágrimas dos olhos! Simplesmente emocionante e de muita responsabilidade. Digo isso por que as muitas dessas famílias já estavam com suas histórias corroídas com o tempo e agora eles terão a oportunidade de perpetuá-las em um material que vai compor boa parte das bibliotecas e livrarias do Brasil. Essa realidade os conforta e dá muito prestigio, além de muitas alegrias. Para mim, em particular é uma realização pessoal que tenho muito orgulho.
Zine: Qual foi a melhor cerveja que você já experimentou?
Henrique: Essa questão é fácil de responder (risos)! A melhor cerveja é aquela que está mais próxima de sua casa. E em Belo Horizonte, onde vivo, há mais de quinze cervejarias e mais de cem cervejeiros caseiros produzido verdadeiras beldades! A Cervejaria Kraemerfass criou uma cerveja fresca, novinha, pronta para consumo. Ela não rodou os porões de um navio e nem passou por um longo e burocrático processo de importação; tampouco pegou longos quilômetros de rodovia esburacada sobre um calor escaldante vindo de nosso sol tropical. É algo especial, de perto, que se pega na hora, refrigera-se na temperatura ideal.
Cervejaria Kraemerfass –Delfim Moreira\MG